2.6 | Ambiente térmico
2.6.1 | Mecanismo reguladores de trocas de calor

 

No interior do nosso corpo a temperatura é constante e de aproximadamente 37 ºC, quer o ser humano esteja no Árctico quer nos Trópicos. O corpo humano dispõe de mecanismos reguladores que controlam as trocas de calor com o ambiente.
O calor e o frio prolongado são elementos que podem contribuir para o aparecimento de acidentes de trabalho. No momento em que este equilíbrio é ameaçado, o corpo reage (manifestando-se através de tremores e/ou transpiração). Quando o corpo é submetido a condições ambientais demasiado severas os mecanismos de regulação deixam de ser eficazes, ocorrendo, assim, alterações físicas e psíquicas que em casos extremos podem ser irreversíveis.


À medida que o esforço despendido com o trabalho aumenta, é necessário baixar a temperatura para manter um equilíbrio corporal.


Para a maioria das pessoas, os limites de conforto térmico são:
• Temperatura: entre os 20 e 25ºC;
• Humidade: entre os 30 e 70%.Nos casos em que há desconforto térmico, a apetência para o trabalho diminui, os trabalhadores ficam exaustos ou mesmo incapacitados para o trabalho, devido ao mal-estar.


Mecanismos de trocas de calor

 

2.6.2 | Factores individuais de tolerância
2.6.2.1 | Aclimatação ao calor

 

A aclimatação ao calor é um processo lento e progressivo. As funções fisiológicas modificam-se consideravelmente pela aclimatação ao calor, aumentando a produção de suor, diminuindo a frequência cardíaca e diminuindo a temperatura do corpo.

Por aclimatização entende-se um estado resultante de um processo de adaptação fisiológica que aumenta a tolerância do indivíduo quando é exposto a um dado ambiente por um período suficientemente longo. Em comparação com um indivíduo não aclimatizado, um indivíduo aclimatizado apresenta menores alterações fisiológicas sob a mesma carga térmica.

 

2.6.2.2 | Aclimatação ao frio

 

A aclimatação ao frio desenvolve-se do mesmo modo que o processo anterior, e, após o período de adaptação, o indivíduo tolera melhor o frio e os efeitos são atenuados.
 

Recomendações de aclimatação
Segundo o plano de aclimatação para trabalhadores industriais (recomendação NIOSH) a aclimatação dos trabalhadores por um período de 6 dias é feita da seguinte forma:


•Gradualização da carga de trabalho e tempo de exposição
•1º dia – 50% do total;
•Aumento diário de 10%;
•6º dia – 100% de exposição total;
• Os trabalhadores aclimatados que regressem ao trabalho após 9 ou mais dias de férias ou 4 mais dias de baixa, serão submetidos:
• A uma aclimatação de 4 dias, num processo idêntico ao anterior, mas com incrementos por dia até alcançar os 100% no 4º dia;
• No caso dos bombeiros deverão ser simulados incêndios, para que este se familiarize com o forte calor e fumos.
• Constituição corporal


Os indivíduos de pouca corpulência, em trabalhos contínuos, sofrem uma sobrecarga térmica maior. Em ambientes frios o trabalhador é obrigado a aumentar o seu metabolismo para lutar contra a hipotermia (diminuição da temperatura do corpo). Em indivíduos obesos o sistema de sudação é menos sensível aos estímulos térmicos e a sua capacidade física baixa traduz-se numa resposta cardiovascular ao calor menos eficiente. São menos resistentes ao golpe de calor assim como os indivíduos muito magros ou desnutridos.

• Idade
Em ambientes muito quentes, os trabalhadores mais velhos dissipam com maior dificuldade a carga calorífica que os mais jovens. Na adaptação ao frio existem ensaios concludentes de que os mais jovens estão mais capacitados que os mais velhos para trabalhar ao frio.

• Higiene alimentar
A exposição ao calor provoca uma sudação excessiva composta por água e sais. A não ingestão de água pode estar na origem da desidratação favorecendo o aumento da temperatura do corpo. A melhor re-hidratação é obtida com água pura, podendo também ser ingerido chá, café fraco ou sumo de frutas bem diluído, devendo ser interdito o uso de bebidas com gás, sumos de fruta não diluídos, leite e todo o tipo de bebidas alcoólicas.
Para o trabalho ao frio deve proporcionar-se aos trabalhadores bebidas e alimentos quentes.

• Sexo
Uma mulher tem menor capacidade de suportar o calor que o homem. Começa a suar mais tarde, apesar do maior nº de glândulas sudoríferas, enquanto a temperatura aumenta.
Após a aclimatação, a quantidade de produção de suor é cerca de metade da do homem.

 

2.6.2.3 | Parâmetros que controlam o ambiente térmico sobre o organismo:

 

São 4 os factores que influenciam a sensação de conforto térmico, assim como as trocas de calor:
• Temperatura;
• Humidade;
• Velocidade do ar;
• Calor radiante.

 

2.6.2.3.1 | Consequências da Hipertermia

 

• Aumento da transpiração;
• Perda de líquidos e sais;
• Perda de sal e consequentes cãibras;
• Tonturas, vertigens;
• Quebra de tensão arterial;
• Choque (devido à diminuição de fornecimento de sangue ao cérebro).

2.6.2.3.1 | Consequências da Hipertermia

 

• Aumento da transpiração;
• Perda de líquidos e sais;
• Perda de sal e consequentes cãibras;
• Tonturas, vertigens;
• Quebra de tensão arterial;
• Choque (devido à diminuição de fornecimento de sangue ao cérebro).
• Stresse Térmico

A acção das temperaturas extremas sobre o organismo, coloca em risco a integridade física e psíquica do trabalhador.
O stresse térmico pode ser avaliado através da medição do calor ambiente ou do metabolismo de alguém que esteja naquele ambiente.

• Em trabalho contínuo, esta acção pode ser minorada através dum plano de aclimatação.
• Em casos extremos e pontuais é essencial a utilização de equipamentos de protecção individual.

 

2.6.2.3.2 | Consequências da hipotermia

 

• Mau estar geral;
• Diminuição da destreza geral (redução da sensibilidade ao tacto);
• Comportamento extravagante (diminui a temperatura do sangue que irriga o cérebro);
• Fecho dos vasos sanguíneos terminais (enregelamento das extremidades do corpo);
• A morte, por ataque cardíaco (ocorre quando a temperatura interior é inferior a 28º C);


Temperaturas Baixas
A exposição ao frio intenso pode provocar o congelamento das extremidades do corpo. A conjugação do frio com outros factores, tais como o vento, a humidade e o sal (caso dos pescadores), pode originar reumatismos localizados. A intervenção em locais frios e sujeito a vibrações pode originar perturbações ósseas e articulares, perda de sensibilidade e cãibras dolorosas das mãos (síndroma de Raynaud).
Quando o calor cedido ao meio ambiente é superior ao calor recebido ou produzido, o organismo tende a arrefecer, e para evitar a hipotermia, o corpo dispõe dos seguintes meios de defesa:
• Redução da circulação sanguínea da pele;
• Desactivação das glândulas sudoríparas;
• Contracção de pequenos músculos que sustêm os pelos, originando o que se chama a “pele de galinha”;
• Tremores corporais (produção de contracções musculares involuntárias, o que aumenta o metabolismo/ produção de calor de 4 a 5 vezes mais do que o normal).


Parâmetros ambientais e sua influência na troca de calor


Temperatura do ar

Corresponde à temperatura seca do ar.
Um aumento de temperatura corporal em 3.5 ºC na pele é acompanhado de uma sensação de desconforto.

Humidade do ar
A humidade do ar afecta o comportamento do homem exposto a altas temperaturas, controla a evaporação do suor gerado pelo corpo. Quanto maior a humidade menor será a perda de calor por evaporação.
• O calor húmido é menos tolerado que o calor seco.
• O frio seco seca as mucosas e favorece as inflamações e bronquites.
• Para valores superiores a 70% assiste-se a um crescimento microbiano importante a à condensação sobre as superfícies frias.
• Níveis baixos de humidade podem estar na origem no aumento de poeiras de pequena dimensão no local de trabalho e do surgimento de determinadas bactérias com impacto no sistema respiratório


Velocidade do ar
A exposição prolongada a correntes de ar produz sensações desagradáveis. Quando estas velocidades são elevadas podem conduzir a um transtorno neurovegetativo.
São aconselhadas velocidades médias no local de trabalho de 0.25 m/s, de modo a que não se ultrapasse o valor máximo admissível de 0.5 m/s.

Calor radiante
Nos locais onde a emissão de calor é elevada, o risco de queimaduras nos olhos e nas mãos é grande. É, por isso, recomendada a utilização de equipamento de protecção adequado.
 

Conforto Térmico