2.4 | Exposição a contaminantes químicos
 

 

Os agentes químicos são substâncias que sendo manejadas pelo trabalhador ou geradas ao longo do processo de produção, podem ser absorvidas pelo organismo e prejudicar seriamente a saúde.
Os produtos químicos são designados por «perigosos» quando apresentam riscos para o homem ou o ambiente devido às suas características físico-químicas, toxicológicas e ecotoxicológicas. Nos produtos químicos distinguem-se duas formas de apresentação:
• Substâncias;
• Preparações.


Substâncias
As substâncias químicas existentes nos locais de trabalho podem penetrar no nosso corpo de diversas formas:
• Pela aspiração;
• Pelo contacto com a pele;
• Pela deglutição.
As substâncias químicas são, por isso, elementos químicos, bem como os seus compostos no estado natural ou produzidos pela indústria e que contenham qualquer aditivo necessário à preservação da estabilidade do produto e qualquer impureza decorrente do processo, com exclusão de qualquer solvente que possa ser extraído sem afectar a estabilidade da substância nem alterar a sua composição.
Exemplos: Acetona, álcool etílico, tricloroetileno, óxido de chumbo, etc.


Preparações
As misturas ou soluções compostas por duas ou mais substâncias.
Exemplos: Tintas, vernizes, cola, diluentes, desengordurantes, etc.
Os ambientes de trabalho contaminados com poeiras representam diversos riscos de doenças ocupacionais para os trabalhadores expostos. A avaliação destes ambientes representa um dos principais métodos preventivos que permitem conhecer:
• as diversas situações e formas de exposição;
• a gravidade da situação.
Com base nestas informações quantitativas, é possível adoptar medidas de controle e verificar posteriormente a sua eficiência. As características físico-químicas dos contaminantes na forma de partículas sólidas determinam o seu comportamento de dispersão e o seu grau de agressividade e profundidade de penetração no sistema respiratório dos trabalhadores expostos.
Os contaminantes químicos apresentam-se no ar sob as seguintes formas:


2. Líquidos (Nevoeiros ou aerossóis).
3. Gasosos (Gases e vapores).

1- Poeira | são partículas sólidas produzidas por rompimento mecânico de sólidos através de processos de moagem, atrito, impacto, etc, ou por dispersão secundária como arraste ou agitação de partículas decantadas. Ex: poeira de sílica, carvão, talco, farinha, etc.
2- Fibras | Partículas aciculares de natureza mineral ou química provenientes da desagregação mecânica e cuja relação comprimento/largura é superior a 5:1.
3- Fumos | são partículas sólidas produzidas por condensação ou oxidação de vapores de substâncias sólidas em condições normais. Ex: fumos de metais, soldas, de chumbo, etc.
4- Névoas | são partículas líquidas produzidas por ruptura mecânica de líquidos. Ex: névoas de água, de ácido sulfúrico, alcalinas, de pintura.
5- Neblinas | são partículas liquidas produzidas por condensação de vapores de substâncias que são liquidas a temperatura normal.
6- Aerossóis | Mistura de partículas esféricas líquidas, cuja dimensão não é visível, provenientes da dispersão mecânica de líquidos.

É necessário, portanto, entender estes conceitos fundamentais antes de estudar os métodos de avaliação.

 

 
 
2.4.1 | Nocividade do empoeiramento.
   

 

Dois factores são preponderantes para o grau de nocividade do empoeiramento: por um lado, têm influência as particularidades do trabalho efectuado, bem como das partículas existentes; por outro lado, têm também influência as características do indivíduo exposto. Para o caso em estudo, devemos salientar os seguintes factores:
Características físicas das partículas: tamanho, dureza do material constituinte e contorno exterior, que pode ou não possuir arestas vivas, são as características físicas das partículas que devemos levar em conta para uma avaliação da sua nocividade;


Propriedades químicas dos contaminantes: deve ser levada em conta a composição química do contaminante, de modo a determinar o seu perfil toxicológico, bem como a sua acção e efeitos;
• Quantidade de partículas no ar inalado e tempo de exposição do trabalhador;
• Intensidade do trabalho desempenhado: caso se trate de um trabalho leve, moderado ou pesado, isto vai ter influência no esforço desenvolvido pelo trabalhador(a), e logo, na quantidade de ar inspirado, o que pode significar maior ou menor contaminação;


• Sensibilidade individual: a sensibilidade dos indivíduos em situação de exposição a contaminantes é variável de pessoa para pessoa. Este factor deve, na medida do possível, ser levado em conta.


Grupos de partículas (classificadas consoante os efeitos que podem desencadear no organismo)

Partículas inertes: Não têm qualquer efeito específico no organismo. No entanto, quando inaladas em grande quantidade, por efeito de sobrecarga das vias respiratórias, ocupam espaço no pulmão, prejudicando as trocas gasosas. Estas poeiras acumulam-se nos alvéolos pulmonares provocando, depois de uma exposição prolongada, uma reacção de sobrecarga pulmonar e uma diminuição da capacidade respiratória. Os depósitos inertes são visíveis por Raio X, se o material é opaco, mas não predispõem à tuberculose. São exemplos o carvão, os abrasivos e compostos de bário, cálcio, ferro, estanho e pó de mármores;


Partículas irritantes:
Partículas cuja acção é local, traduzindo-se numa irritação, e, mais tarde, por uma destruição das mucosas. Estão neste grupo as poeiras que não chegam a alcançar as vias respiratórias inferiores mas podem produzir uma acentuada acção irritante das mucosas, as "neblinas" ácidas e alcalinas;


Partículas fibrogéneas ou pneumoconióticas:
Estas partículas reagem quimicamente com o tecido pulmonar, destruindo-o e prejudicando gravemente a saúde. Através de reacção biológica, originam uma fibrose pulmonar ou pneumoconiose evolutiva, detectável por exame radiológico, e que normalmente desenvolve focos tuberculosos com extensão a problemas cardíacos. São exemplos as poeiras contendo sílica livre cristalina (quartzo), amianto, silicatos com sílica livre (talco, caulino, mica, feldspato, etc.) e os compostos de berílio, não enquadráveis neste estudo;• Partículas tóxicas (sistémicas): A acção nociva destas partículas manifesta-se num órgão que não o pulmão, que apenas serve de portal de entrada. Os efeitos podem, em casos de forte inalação, manifestar-se imediatamente (intoxicações agudas). Quando inalados em baixas quantidades por longo espaço de tempo, poderão resultar em intoxicações crónicas. As de origem metálica, como por exemplo, o chumbo, cádmio, mercúrio, arsénio, berílio, etc. são capazes de produzir uma intoxicação aguda ou crónica por acção específica sobre órgãos ou sistemas vitais. A absorção destas substâncias pode ser por via respiratória ou por via digestiva;


Partículas alergéneas : A pele e o aparelho respiratório são os órgãos mais afectados por este tipo de partículas, que são passíveis de provocar fortes reacções alérgicas e capazes de produzir asma em algumas pessoas (por exemplo: algumas madeiras tropicais, resinas).

 

2.4.1.1 | Classificação do empoeiramento

 

É usual distinguirem-se três fracções no empoeiramento:
Fracção total: é constituída pela totalidade das partículas presentes no ambiente, num dado momento, independentemente da sua dimensão;
Fracção inalável: Constituída pelas partículas que ficam, pela sua dimensão (=10 – 15µm), retidas nas vias respiratórias superiores. Exercem essencialmente uma acção local;
Fracção respirável: Pela sua reduzida dimensão (<10µm) são as que conseguem penetrar mais profundamente no aparelho respiratório, atingindo os alvéolos pulmonares, mas também outros órgãos, como o fígado, o rim e a medula óssea, utilizando como canal a corrente sanguínea.
As partículas que chegam ao fundo do pulmão são aquelas cuja dimensão é inferior a 2 µm (uma milionésima parte de um metro), constituindo 70% do depósito e sendo invisíveis ao olho humano.

 

  2.4.1.2 | Factores Anatómicos e Fisiológicos    
 

 

As características anatómicas e os mecanismos fisiológicos de defesa que o aparelho respiratório tem, intervêm na defesa do(s) agente(s) agressor(es) exteriores. Nem sempre a exposição a poeiras resulta no aparecimento de pneumoconioses. Esta situação só ocorre em certas condições, dependendo sempre da natureza das partículas inaladas e da capacidade defensiva do organismo.


As partículas de poeira de grande dimensão que normalmente atingem a faringe através do movimento respiratório são retidas na cavidade nasal.
As mudanças bruscas de direcção do sistema respiratório permitem que o ar atinja elevada velocidade, esta circulação turbulenta sobre as paredes húmidas do sistema respiratório e o efeito de colisão, fazem uma selecção das partículas.


Por esta mesma razão só uma pequena fracção de partículas é retida na zona nasofaríngica e faríngica. A zona traqueobrônquica só retém partículas com dimensões compreendidas entre 3 e 5 µm.
A maioria das partículas que conseguem passar todo o sistema selectivo da árvore respiratória ficam retidas nos sacos alveolares (bronquíolos).


Durante o processo de inalação, as partículas seguem o percurso das vias respiratórias. O local da retenção e a quantidade de partículas retidas depende do diâmetro aerodinâmico das mesmas. As partículas de maior diâmetro são retidas no trato respiratório superior, as de menor diâmetro atingem o pulmão, apresentando, assim, padrões de toxicidade mais elevada.

 

 
2.4.1.3 | Medidas Preventivas

 

Em todo o processo de controlo do risco devem ser aplicados os seguintes princípios:
• Eliminar/reduzir o risco;
• Circunscrever o risco;
• Afastar o homem da fonte;
• Proteger o homem.


Nas duas primeiras situações, é necessário tomar medidas construtivas ou de engenharia, actuando directamente sobre os processos produtivos, e nos equipamentos e instalações (arejamento).
As duas últimas situações consistem na actuação sobre o homem, afastando-o da máquina ou, quando isto não é possível, protegendo-o.


Sempre que possível devem substituir-se os produtos mais tóxicos por produtos menos tóxicos.

A instalação de sistemas de controlo do ambiente de trabalho pode ser facultado através de:
• Arejamento dos locais de trabalho através de uma ventilação geral;
• Exaustão localizada e de um sistema de ventilação adequado;
• Isolamento total ou parcial dos processos perigosos;
• Formação do trabalhador (o trabalhador deve ser devidamente informado sobre os riscos inerentes ao seu posto de trabalho e o modo de controlar estes riscos);
• Utilização de equipamentos de protecção individual;
• Rotação de trabalhadores;
• Rastreio para detecção atempada de situações de alteração da saúde dos trabalhadores.
Deve ter-se sempre em conta que as poeiras que surgem em ambientes de trabalho:
• Reduzem a visibilidade por absorção da luz;
• Deterioram as máquinas com redução do seu rendimento e duração;
• Prejudicam o bem-estar geral e diminuem o rendimento de trabalho.


Por estes motivos, devem-se tomar medidas de modo a eliminar as poeiras logo nos locais da sua formação. Caso não se tomem estas medidas, devido ao minúsculo tamanho das partículas, na ordem do mícron, e por acção das correntes de ar existentes, estas não sedimentam.
Devem ser também tomadas medidas de limpeza frequente sobre as partículas depositadas em máquinas e pavimentos, devido ao facto de poderem entrar em suspensão com muita facilidade, pela sua diminuta dimensão.


Deve ser organizado um serviço de limpeza, à semelhança dos outros serviços, destinando-se-lhe pessoal e meios de acção adequados (aspiradores, limpeza a húmido, etc.), com horário determinado e, se possível fora das horas normais de funcionamento produtivo.

 

2.4.2 | Contaminantes Gasosos

 

O ar é constituído por azoto (cerca de 78%), oxigénio (cerca de 21%), dióxido de carbono (0,03%), hidrogénio (0,01%), vestígios de gases raros com a excepção de árgon e vapor de água em quantidade variável.
Considera-se que um ar está poluído quando contém substâncias estranhas à sua composição normal ou quando, sendo normal no aspecto qualitativo, estão alteradas as proporções dos diferentes componentes.
No grupo dos contaminantes químicos gasosos distinguem-se dois tipos de compostos: os gases e os vapores.

Gases
São substâncias que só podem mudar de estado com uma acção conjunta de aumento de pressão e descida de temperatura.

Vapores
É a fase gasosa de uma substância susceptível de existir no estado sólido à temperatura e pressões normais (pressão = 760 mm Hg ou 1013 mbar; temperatura = 25ºC)

 

2.4.2.1 | Nocividade dos Contaminantes Gasosos

 

A nocividade dos contaminantes gasosos depende das características da substância, do trabalho efectuado e das características individuais do trabalhador.
A evaporação permite que uma substância se transforme em parte do ar que respiramos. Esta pode, assim, dirigir-se através do sangue a todos os órgãos internos, como, por exemplo, o cérebro e o fígado.
Alguns contaminantes gasosos, como os dissolventes, podem, também, ser absorvidos pelo corpo, através da pele, ou pelas membranas mucosas. No entanto, a maior parte penetra através da inspiração.
Os dissolventes, ao atingirem o cérebro através dos pulmões ou da pele, são atraídos pela grande quantidade de gordura existente nas células do cérebro.


Efeitos da exposição prologada a estes poluentes:
• Vertigens;
• Dores de cabeça;
• Cansaço e redução da capacidade de compreensão e de reacção.
 

Os efeitos dos contaminantes gasosos no ser humano dependem:
• Da solubilidade da substância no sangue;
• Das características toxicológicas da substância;
• Da concentração de substância no ar inalado;
• Da frequência e tempo de exposição;
• Da quantidade de ar inalado ( depende do esforço físico);
• Da sensibilidade individual – Esta característica do organismo faz variar, para igual exposição, a extensão dos efeitos.


Alguns gases e vapores, entre os quais a maioria dos solventes industriais orgânicos, apresentam propriedades explosivas e inflamáveis, e, por isso, colocam também riscos no âmbito da segurança.

 

  2.4.2.2 | Classificação dos Contaminantes Gasosos    

 

A classificação mais frequente é a seguinte:

 

 

2.4.2.3 | Controlo das Situações de Risco - Prevenção

 

Depois de feita a avaliação de riscos existentes nos locais de trabalho têm de ser desenvolvidos programas de prevenção para o seu controlo e correcção, incrementando actuações de vária ordem, nomeadamente, legal, médica, psicotécnica, organizativa e técnica.


Nas situações de risco, a sequência das intervenções deve ser a seguinte:
1. na fonte emissora;
2. sobre ambiente geral (arejamento);
3. por fim sobre o próprio indivíduo.

Quando, mesmo com o processo controlado, o risco de exposição está presente, devem ser tomadas medidas no sentido de proteger o trabalhador, afastando-o da fonte de risco ou reduzindo o tempo de exposição.
Devem ser tomadas medidas de carácter organizacional, como, por exemplo, a rotação dos trabalhadores nos postos de trabalho de maior risco.
Somente em último recurso, e quando todas as outras intervenções não resultarem, ou quando a exposição se limitar a tarefas de curta permanência (por exemplo: casos de manutenção e de limpeza), se recorre a medidas de prevenção de carácter individual, nomeadamente, a utilização de equipamento de protecção individual (EPI).

De um modo geral, as medidas correctoras de uma situação de risco de exposição a factores ambientais podem ser classificadas em:
• Medidas técnicas de prevenção para reduzir ou eliminar situações de risco nos locais de trabalho, por alteração do ambiente de trabalho ou dos processos;
• Medidas que poderão ser tomadas para diminuir o risco potencial de um local de trabalho sem este ser alterado.

 

2.4.2.4 | Medidas que poderão ser tomadas para diminuir o risco potencial de um local de trabalho sem efectivamente este ser alterado

 

 

Considerações Gerais
A ventilação consiste na substituição do ar de um ambiente interior por ar do exterior, com a finalidade de reduzir as concentrações dos contaminantes, ou para elevar ou baixar a temperatura ambiente.
Quando se pensa num sistema de ventilação industrial, este deve corresponder às exigências de higiene do local (limpeza do ar), ser compatível com o ciclo produtivo e aceite pelas pessoas que permanecem no local.
A ventilação dos locais de trabalho pode ser obtida por dois processos:


Ventilação Geral
Também designado por ventilação por diluição, consiste na introdução de ar limpo em quantidade suficiente para que as concentrações dos contaminantes no ar ambiente se reduzam a níveis aceitáveis.
Este tipo de ventilação só pode ser aplicado eficazmente quando os contaminantes em causa são de baixa toxicidade, são libertados uniformemente e em pequenas quantidades, estando contra-indicado no caso do controlo do empoeiramento.


• Ventilação Local
A ventilação local ou ventilação por aspiração localizada permite captar os contaminantes o mais perto possível da sua fonte emissora e antes do trabalhador. Este processo necessita de movimentar quantidades de ar muito menores que a ventilação geral e, por isso, os custos de investimento e de manutenção são menores.
Na ventilação local é feita a captação do contaminante na fonte, a sua condução em tubagem até a um colector que o retém (Silo).
 

Um sistema de ventilação por exaustão deve ter o dispositivo de captação o mais perto possível da emissão do contaminante e de forma envolvente da fonte e ser concebido para que o trabalhador não esteja colocado entre a captação e a fonte.
A deslocação do ar aspirado deve estar no sentido contrário às vias respiratórias do trabalhador de forma a permitir que o sistema de aspiração corresponda ao movimento natural dos contaminantes. Em poluentes mais densos que o ar, a sua movimentação é no sentido descendente, por isso a aspiração deve ser a nível inferior.
Deve, também, permitir que a velocidade de captação corresponda ao caudal de emissão do contaminante e às suas características físicas, que o ar aspirado seja compensado com entrada de ar exterior. É aconselhável que o ar entrado tenha um caudal 10% superior ao caudal de aspiração.
Este sistema deve ser concebido de forma que as saídas do ar poluído não estejam colocadas perto das entradas do ar novo.