Antes de qualquer procedimento relacionado com o exame da vítima é essencial garantir a sua segurança , bem como a equipa da equipa e da vítima.
Asseguradas as condições de segurança no local, o socorrista deve então iniciar a avaliação do estado da vítima, de forma a poder socorrer por ordem de prioridade e de gravidade as lesões que esta apresente, nunca esquecendo que não deve avançar no exame se não tiver corrigido uma alteração anteriormente detectada.
O socorrista deve efectuar um rápido e minucioso exame primário para avaliar a existência de alterações das funções vitais. Estas colocam em risco imediato a vida da vítima.
Em seguida, deve realizar o exame secundário, pesquisando a existência de lesões que, não pondo em risco imediato a vida, necessitam de cuidados de emergência e de estabilização para um transporte seguro à unidade de saúde.

 

  3.2 | Exame primário
 

 

O exame primário tem como finalidade detectar a existência de situações que possam pôr em perigo imediato a vida da vítima, ou seja, situações de compromisso das funções vitais (aquelas que colocam em risco imediato a vida da vítima) sendo então, fundamental a sua correcção e a prestação dos cuidados de emergência adequados.
 

No exame primário da vítima o socorrista deve seguir a seguinte lista de prioridades:
1. Avaliar o estado de consciência;
2. Avaliar se ventila;
3. Avaliar se tem pulso;
4. Detectar hemorragias externas graves;
5. Detectar sinais evidentes de choque.
No caso de acidente ou de situação desconhecida, suspeite sempre que a vítima possa ter lesões crânio-encefálicas e ou vertebro-medulares.

3.2.1 | Avaliação do estado de consciência

 

Avaliar se a vítima se encontra consciente, isto é, se responde quando estimulada. Para tal, abana-se suavemente os ombros e pergunta-se em voz alta:
“Está bem? / “Sente-se bem?”.

Se a vítima está inconsciente, deve imediatamente gritar por ajuda, sem a abandonar, pois é possível que necessite da ajuda de mais alguém junto de si.

Se não houver resposta, a vítima é considerada inconsciente correndo perigo de vida.

3.2.2 | Permeabilização da via aérea

A obstrução da via aérea é uma situação muito grave que pode ocorrer nas vítimas inconscientes por queda da língua, por relaxamento dos músculos ou por acumulação de secreções, vómito, sangue ou mesmo por existirem objectos estranhos tais como dentes, próteses dentárias, comida, etc.,.

3.2.3 | Pesquisa de ventilação espontânea

Após ter efectuado a permeabilização da via aérea, aproxime-se da face da vítima observando o tórax e mantendo a via aérea aberta.
Verificar se ventila durante 10 segundos, recorrendo a estes três passos:
Ver | se existem movimentos torácicos;
Ouvir | o ar a passar na via aérea da vítima;
Sentir | o ar que sai da boca da vítima a bater na sua face.

3.2.4 | Pesquisa de circulação / existência de pulso

O pulso é o resultado de uma onda de sangue que passa ao longo das artérias sempre que o coração se contrai, ou seja, quando o coração efectua o seu efeito de bomba e leva o sangue oxigenado a todas as partes do corpo através das artérias (circulação sanguínea).
Numa vítima com circulação, é possível palpar o pulso em várias artérias, nomeadamente nas artérias carótidas, femurais, radiais ou umerais.
Numa vítima inconsciente pesquisa-se sempre o pulso carotídeo, uma vez que é um pulso mais central, logo mais fácil de palpar.


Para localizar o pulso carotídeo, deve colocar dois dedos (indicador e médio) na região da laringe («maçã de Adão») e deslizar ligeiramente para o lado exterior do pescoço até encontrar um sulco entre a traqueia e o músculo esternocleidomastoideu.
Palpe suavemente, sem comprimir demasiado, e pesquise a existência de pulso durante 10 segundos.

3.2.5. Detecção de hemorragias externas graves
Depois de se ter certificado que a vítima tem pulso, observe-a como um todo e procure a existência de hemorragias externas graves. Estas são facilmente identificáveis.
Quando a hemorragia é abundante vai colocar em risco a vida da vítima, logo é fundamental proceder ao seu controlo de imediato.

 

3.2.6. Detecção de sinais evidentes de choque

A hipovolemia é a diminuição do volume de sangue em circulação.
A hipovolemia pode ter várias causas, no entanto é sempre uma situação grave que pode conduzir à morte.

 

3.3. Exame secundário

 

Depois da realização do exame primário (detectando e iniciando o socorro nas situações de perigo de vida imediato) inicia-se o exame secundário.
O objectivo geral da realização do exame secundário é detectar situações que não constituindo perigo de vida imediato, possam agravar a situação da vítima se não forem socorridas.
A abordagem deve ser eficaz e sistemática e, processando-se na seguinte sequência:

3.3.1. Recolha de informação
A recolha da informação é fundamental e pretende-se através dela:
1. Saber o que aconteceu à vítima - em algumas situações pode parecer óbvio o que aconteceu, mas dialogando com a vítima poderá obter informações que revelem outras causas;
2. Identificar a principal queixa da vítima - nem sempre o que dói mais é o dado mais evidente;
3. Conhecer os antecedentes pessoais - o facto de ter doenças anteriores, sofrer de alergias ou fazer determinado tipo de medicação, pode exigir actuação diferente.
 

Questões a colocar à vítima:
1. Nome e idade (se é menor, contactar os pais ou um adulto conhecido);
2. O que aconteceu? (identificar características do acontecimento: hora, tipo de acidente, número de pessoas, etc. ...);
3. Isso já aconteceu antes?;
4. Algum outro problema ou enfermidade actual?;
5. Está em tratamento médico?;
6. É alérgico a algum medicamento ou alimento?
7. Ingeriu algum tipo de droga ou alimento?

Nota: No entanto, é importante referir que a vítima, é a pessoa mais importante no local, mesmo que pareça pouco colaborante ou confusa, É a ela que deve fazer as perguntas em primeiro lugar, tendo como segunda prioridade familiares e outras pessoas que estejam no local.

 

3.3.2 | Avaliação de sinais vitais
A avaliação de três sinais vitais tem como objectivo caracterizar a ventilação, o pulso e a pele,  no que se refere à temperatura, coloração e humidade.

3.3.2.1 | Pulso
O pulso é uma onda de sangue gerada pelo batimento cardíaco e propagada ao longo das artérias. É palpável em qualquer área onde uma artéria passe sobre uma proeminência óssea ou se localize próxima a pele.
A frequência considerada normal de pulso em adultos é de 60 a 100 batimentos por minuto;
a) nas crianças em geral até um ano de idade é superior a 100 batimentos por minuto;
b) para crianças com mais de um ano de idade os valores estão entre 80 e 100 batimentos por minutos.
As alterações na frequência e volume do pulso representam dados importantes no socorro pré-hospitalar. Um pulso rápido, fraco, pode resultar de um estado de choque por perda sanguínea. A ausência de pulso pode significar um vaso sanguíneo bloqueado ou lesado, ou que o coração parou de funcionar (paragem cardíaca).
Na caracterização do pulso é necessário avaliar:
•A Frequência, que corresponde ao número de pulsações por minuto;
•A Amplitude, que pode ser cheio ou fino;
•O Ritmo, que pode ser regular ou irregular.


3.3.2.2 | Ventilação

A ventilação normal é fácil, sem esforço e sem dor. Ao conjunto de uma inspiração e expiração dá-se o nome de um ciclo ventilatório. A frequência pode variar bastante. Um adulto ventila normalmente entre 12 a 20 vezes por minuto. Respiração e ventilação significam a mesma coisa, ou seja, o acto de inspirar e expirar o ar.
Ocasionalmente, pode-se fazer deduções a partir do odor da respiração, a pessoa intoxicada pode cheirar a álcool. No estado de choque observam-se respirações rápidas e superficiais. Uma respiração profunda, difícil e com esforço pode indicar uma obstrução nas vias aéreas, doença cardíaca ou pulmonar.


Para caracterizar a ventilação é necessário avaliar:
•A Frequência, que corresponde ao número de ciclos por minuto;
•A Amplitude, que pode ser superficial, normal, ou profunda;
•O Ritmo, que pode ser regular ou irregular.


3.3.2.3 | Caracterização da pele
Na avaliação das características da pele importa considerar:
• Temperatura

 

 

 

A temperatura normal do corpo é de 37º C. A pele é responsável, em grande parte, pela regulação desta temperatura, irradiando o calor através dos vasos sanguíneos subcutâneos e evaporando água sob forma de suor.
Uma pele fria e húmida é indicativa de uma resposta do sistema nervoso simpático a um traumatismo ou perda sanguínea (estado de choque). A exposição ao frio geralmente produz uma pele fria e seca.
Uma pele quente e seca pode ser causada por febre, numa doença, ou ser o resultado de uma exposição excessiva ao calor, como na insolação.


Considera-se:
• Temperatura elevada ou hipertermia quando o valor é superior a 37,5º;
• Temperatura normal ou apirético quando o valor está entre os 35,5º e os 37,5º;
• Temperatura abaixo do normal ou hipotermia quando o valor é inferior a 35º.

 

• A coloração e a existência ou não de humidade
A cor da pele depende primariamente da presença de sangue circulante nos vasos sanguíneos subcutâneos.
Uma pele pálida, branca, indica circulação insuficiente e é vista nas vítimas em choque ou com enfarte do miocárdio. Uma cor azulada (cianose) é observada na insuficiência cardíaca, na obstrução de vias aéreas, e também em alguns casos de envenenamento. Poderá haver uma cor vermelha em certos estágios do envenenamento por monóxido de carbono (CO) e na insolação.